honesty and friendship

Na época do colegial (ou ensino médio. me deixem), eu tinha uma amiga muito querida e muito próxima. Fora da escola, passávamos horas ao telefone, ou batendo perna ou fazendo qualquer coisa juntas. Brigávamos bastante também. Vez ou outra ficávamos algum tempo sem olhar na cara uma da outra. Mas acho que era isso que fazia a nossa amizade tão legal. A gente tinha liberdade pra falar o que pensava, mesmo que isso magoasse a outra pessoa. Porque sabíamos que, uma hora ou outra, estaríamos juntas de novo. Foi uma época bem legal.

Há um tempinho atrás, pouco depois da morte da minha mãe, ela entrou em contato comigo através de uma rede social. Fui ler a mensagem toda contente, achando que ela queria marcar um dia pra gente se encontrar, conversar um pouco e tals. O recado dela era mais ou menos assim: 'oi. tudo bem? tô terminando um trabalho de conclusão e queria saber se vc pode dar uma olhada no português, ver se está tudo certinho. saudades. fulana'.

Olha, te dizê que, na hora, fiquei decepcionada e com raiva. Fiquei puta da vida que ela, que sabia da história da doença da minha mãe, nunca tinha se preocupado em ligar pra saber como eu estava e que, do nada, aparece pedindo um favor.

Só depois da terapia é que consegui deixar a mágoa de lado e entender melhor a situação. Na verdade minha raiva não era da amiga, era do fato dela ter podido ter uma vida normal, com preocupações normais, enquanto eu estava lidando com todas as implicações do pior momento da minha vida.

Durante toda aquela época, eu me recusei (o máximo que pude) a parecer a coitadinha cuja mãe estava morrendo e cuja vida estava em pausa por conta disso. Foi a minha maneira de lutar contra a batalha que eu sabia que já estava perdida. Fiz de tudo para tentar manter meu dia-a-dia, me agarrei ao cotidiano prático pra esquecer da dor e do desespero, que passaram a ser tão comuns quanto acordar ou tomar banho. Aceitei as dores dessa escolha porque acreditava que se deixasse a realidade tomar conta, não aguentaria e cederia. E aí eu seria um problema a mais pro meu marido, que me ajudou tanto, e que acabou se transformando no principal motivo de eu continuar lutando.

Apesar de me esforçar pra não transparecer, eram comuns as crises de autopiedade. E nesses momentos insanos, eu costumava remoer a distância de alguns amigos, e acreditava que, se não estivessem ao meu lado, sofrendo e chorando comigo, não eram amigos de verdade. Quanta incoerência, meu D'us... Ora, se eu posava de forte, por que plêuras eu queria que todos cuidassem de mim?

Só depois, com a terapia, é que entendi melhor o que acontecia. E pude entender também que, quando decidi bancar a durona, foi o mesmo que colar um bilhete na minha testa onde estava escrito: 'isso? ah, não se preocupe. está tudo sob controle. vamos falar de outras coisas'. Como poderia cobrar algo dos meus amigos se eu mesma fazia questão de dizer que estava 'tudo bem'?

A questão toda é que não estava. Eu estava um caco, um lixo, e precisava desse apoio. Mas achei, em toda a minha ignorância, que se eu evitasse falar da dor, ela iria embora. Foi um de meus maiores erros, e me custou a solidão de um sofrimento que tomei só pra mim e a desaprovação de alguns, que acharam que eu não estava dando a mínima para o que estava acontecendo.

Percebi, então, que minha amiga do colégio (a quem não avisei sobre a morte da minha mãe, aliás) estava fazendo exatamente o que pedi que ela fizesse, ela estava 'falando de outras coisas'.

E vi que preciso ser mais honesta com as pessoas que são importantes pra mim. Porque se tivesse sido mais verdadeira sobre o que estava sentindo, teria o carinho e apoio delas e seria um pouco menos doloroso passar por tudo aquilo.

O bom é que tive a chance de aprender. O desafio agora é levar o ensinamento adiante, mas, pelo menos, sei que tenho bons amigos que me ajudarão, caso eu precise e seja honesta o suficiente para pedir isso a eles.

1 comentários:

Anelise Ribeiro Veiga disse...

Vc sabe que sempre pode contar comigo! às vezes tenho receio de falar algo e parecer intrometida, mas eu te amo, fofinha! às vezes precisamos nos mostrar frageis, para conseguirmos nos levantar. Tô do seu lado!
*música do Thundercats* HHOOOOOOOOOOOOHHHHHHHH!!!!

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